Doenças Estranhas:Alice No Pais Das Maravilhas

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Veja um pouco sobre
Essa doença estranha
doença estranha
 A Síndrome de Todd foi descrita em 1955 pelo psiquiatra inglês John Toddque, leitor e fã de Lewis Carroll, propôs que a chamassem de Síndrome de Alice no País das Maravilhas. Trata-se de uma desordem neurológica que afeta a condição humana de percepção, proporcionando uma distorção do espaço, tempo e imagem corporal. Está freqüentemente associada com tumores cerebrais, uso de drogas psicoativas (incluindo cogumentos alucinógenos; LSD) e, principalmente, com enxaqueca. Seja qual for a causa, as distorções podem ocorrer várias vezes ao dia e podem durar de minutos a semanas. O sofredor vê os objetos com o tamanho e/ou forma errada, há uma considerável alteração da perspectiva e do senso do tempo; é comum a distorção do tamanho de outras modalidades sensoriais, bem como a imagem do próprio corpo. Afeta também sensação de toque e audição; usualmente ocorrem intensas alucinações e a interpretação de diversos eventos pode estar prejudicada. Alguns distúrbios podem estar associados, dentre eles: apraxia, agnosia, alterações de linguagem e delírios. A leitura de “Alice Através do Espelho” e “Alice no País das Maravilhas” possibilita-nos conhecer as evidências sintomatológicas que justificam tal nomenclatura:

Macropsia 
[...] Era certamente um Mosquito muito grande: “Mais ou menos do tamanho de uma galinha”, Alice pensou.
[...] "E que flores enormes devem ser aquelas!” foi o que pensou em seguida. “Como se fossem cabanas sem teto e com hastes... e que quantidade de mel devem produzir.”


Micropsia
[...] No entanto, aquilo era tudo menos uma abelha comum: era um elefante...

Alteração da perspectiva
[...] quanto mais ando em direção ao ovo, mais longe ele parece ficar.
[...] A loja parecia cheia de toda sorte de coisas curiosas... mas o mais estranho de tudo era que, cada vez que fixava os olhos em alguma prateleira para distinguir o que havia nela, essa prateleira especifica estava sempre completamente vazia, embora as outras em torno estivessem completamente abarrotadas.


Alucinação
[...] Todo tipo de coisas aconteceu ao mesmo tempo. As velas cresceram todas até o teto, parecendo um canteiro de juncos com fogos de artifício na ponta. Quanto as garrafas, cada uma se apossou de um par de pratos, ajeitando-os rapidamente como se fossem asas, e assim, usando garfos como pernas, saíram esvoaçando para todo lado –“se parecem muito com pássaros”, pensou Alice.

Afetação tátil
[...] No seu pavor, agarrou o que estava mais perto da sua mão, que calhou ser a barba da Cabra. Mas a barba pareceu se dissolver quando ela a tocou.

Afetação da linguagem
[...] “Cada vez mais estranhíssimo!” exclamou Alice (a surpresa fora tanta que por um instante realmente esqueceu como se fala direito)
[...] Começou a recitar, mas sua voz soava rouca e estranha e as palavras não vieram como costumavam.

Afetação auditiva
[...] De onde vinha o barulho, Alice não conseguia distinguir: o ar parecia repleto dele, e ressoava em toda a sua cabeça até deixá-la completamente surda.

Distorção da percepção das formas
[...] Alice agarrou o bebê com certa dificuldade, pois a criaturinha tinha uma forma estranha, com braços e pernas esticados em todas as direções “Igualzinho a uma estrela do mar” pensou Alice.
[...] Não havia a menor dúvida de que possuía um nariz extremamente arrebitado; além disso, os olhos eram um tanto miúdos para um bebê: no todo, Alice não gostou da aparência da criatura.

Distorção da percepção da própria imagem corporal
[...] Seu queixo estava tão comprido contra seu pé que mal tinha como abrir a boca.
[...] descobriu que não achava seus ombros em lugar algum: tudo o que conseguia ver, quando olhava pra baixo, era uma imensa extensão de pescoço.

Sensação de encolhimento ou crescimento 
[...] Que sensação estranha!” disse Alice; “devo estar encolhendo como um telescópio!”
[...] ”Agora já estou espichando como o maior telescópio que já existiu! Adeus, pés!” (pois quando olhou para eles, pareciam quase fora do alcance de sua vista, de tão distantes). 
[...] Sentiu a cabeça forçando o teto e teve de se abaixar para não quebrar o pescoço”.

Dissociação [...] “Quem é você?” perguntou a lagarta
“Eu... eu mal sei, Sir, neste exato momento... pelo menos sei quem eu era quando me levantei esta manhã, mas acho que já passei por várias mudanças desde então”
“Que quer dizer com isso? Esbravejou a Lagarta. “explique-se!”
“receio não poder explicar”, respondeu Alice “porque não sou eu mesma, entende?”
“Então, acha que está mudada, não é?”
“Receio que sim, Sir”, disse Alice. “Não consigo me lembrar das coisas como antes...”

[...] “E agora, quem sou eu? Vou me lembrar, se puder! Estou decidida!” mas estar decidida não ajudou muito... 

Micropsia + Macropsia
[...]Mas a rainha já não estava ao seu lado: reduzira-se subitamente ao tamanho de uma bonequinha, e agora estava sobre a mesa, correndo alegremente em voltas e mais voltas à procura de seu xale, que se arrastava atrás dela [...] só seu rosto foi ficando muito pequeno, e os olhos ficando grandes e verdes, e cada vez mais, enquanto Alice continuava a sacudi-la, ia ficando menor... e mais gordinha... e mais macia... e mais redonda... e...afinal de contas era mesmo uma gatinha.
[...]Mais tarde, contou que nunca em toda sua vida vira uma cara como a que o Rei fez ao ser erguido e espanado no ar por uma mão invisível. Ele ficou espantado demais para gritar, mas seus olhos e sua boca foram ficando cada vez maiores, e cada vez mais redondos...

A obra de Carroll também é responsável por outro epônimo médico: a Síndrome de Cheshire Cat (SCC), descrita pela primeira vez em 1968 pelo médico britânico Eric George Lapthorne Bywaters.

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